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Artigo: Relação médico-paciente nos tempos atuais
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Publicado em 24/07/2024

Por Dr. Rogério Mendes* 

Vivenciamos os avanços da tecnologia da informação, em que não apenas o móvel e digital se tornaram habituais, em substituição ao tradicional e analógico, assim como temos observado a rápida evolução da realidade virtual e da inteligência artificial generativa. A medicina, assim como diversos outros setores de prestação de serviços, passa por um processo de transformação em que inevitavelmente estes assuntos são discutidos e continuamente assimilados.

Isto impacta diretamente na chamada relação médico-paciente. A figura do médico soberano, detentor da informação, único nas tomadas de decisão quanto às propostas de intervenção terapêutica, tem sido questionada. O paciente (e familiar), outrora figura frágil e passiva, hoje goza de acesso amplo à informação nas mídias digitais e toma para si papel ativo na discussão do seu processo de saúde e doença.

Sem dúvidas, isto é maravilhoso do ponto de vista de autonomia e enfrentamento da doença, bem como um direito do paciente ao consentimento livre e esclarecido da sua real situação e tratamento. Porém, isto gera margem para discordâncias infundadas e muitas vezes não salutares, chanceladas pelos “informais tratados de medicina”, facilmente encontrados nas principais ferramentas de pesquisa e redes sociais (quem nunca recorreu ao “Dr. Google”?). Como pode e deve o médico se posicionar nestas situações?

Em tempos de relações pessoais fragilizadas, cercadas de incertezas e quebras de vínculos, o pessoal deixou de ser prioritário, frente ao virtual. Entenda-se aqui não uma crítica aos avanços da tecnologia da informação, mas uma necessidade de compreender os limites e eventuais impactos negativos nas relações humanas, dentre as quais, médico e paciente, em que o objetivo fim deste envolvimento é a saúde e a vida.

Particularmente, no pós-pandemia, nós médicos vivenciamos a oportunidade de aderir à telemedicina como ferramenta importante de atenção à saúde, situação esta que permitiu ampla orientação à sociedade e possibilidade de salvar muitas vidas. Este é um ótimo exemplo de como a modernidade do digital encurta distâncias e agiliza tempo de tomada de decisão, logo, pode ser benéfica e deve sim ser estimulada.

Neste sentido, cabe ao médico se posicionar como parte ativa no processo de incorporação da modernidade à prática clínica, sem abandonar os princípios éticos e morais que regem esta nobre profissão. Compartilhamento de decisões e sentimentos, suporte constante, construção de confiança e confidencialidade são a base para uma relação médico-paciente sólida e sustentada. 

Há a necessidade de se introduzir a graduação médica práticas que promovam um atendimento mais humano e acolhedor, verdadeiro e não superficial. A empatia, em seu conceito amplo da capacidade de colocar-se no lugar do próximo como capacidade cognitiva (que pode ser ensinada), emerge como uma destas práticas que quando bem sedimentadas repercutem sustentada e positivamente nas relações entre os envolvidos, sejam eles o doente, o médico e todo e qualquer profissional da área da saúde.

O êxito, assim como o insucesso de um tratamento quando bem executado, é dentro dos preceitos da decência e legalidade um processo de construção compartilhado entre a equipe médica, o paciente e os familiares. Logo, a satisfação dos pacientes deve ser garantida através de métodos de avaliação, assim como propostas de feedback e melhoria contínua. Não menos importante, o respeito à competência do médico, garantindo sua autonomia e condições dignas de trabalho, são fatores cruciais para a consolidação da boa relação médico-paciente. 

Portanto, a medicina possui uma oportunidade única de demonstrar a importância de reforçar as relações humanas sólidas e profundas na contemporaneidade, tão importantes e urgentes para a nossa sociedade. Atualização constante e primor técnico são pré-requisitos básicos para a boa prática médica, mas insuficientes e potencialmente danosas, se o respeito e bom trato à pessoa humana forem deixados para segundo plano. 

“Cirurgia boa é cirurgia segura”

*Médico Cirurgião Plástico do Consultório da Pele – SP

@drrogeriomendes

www.consultoriodapele.com.br

 

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