Jardim Santa Rita, Diadema, 7 de novembro de 1.979
- A senhora que é dona Francisca? - pergunta o policial para a professora pré-escola aflita.
- Sim, sou eu.
- O que aconteceu, senhora?
- Invadiram a minha casa e levaram algumas coisas.
- A senhora conseguiu levantar o que foi levado?
- Alguns objetos de pouco valor, mas que valiam muito pra gente. O senhor sabe, né? Algum dinheiro que a gente guardava em casa e a vitrolinha que meu filho ganhou da madrinha, sabe?
- A senhora poderia nos acompanhar até a delegacia para lavrar o boletim de ocorrência?
- Onde fica?
- Em Serraria.
- É lá no Centro?
- Não, dona França, é depois do Centro de Diadema. Mas eles vão pela avenida que começa depois do Zé Carrero. Aí é pertinho. Dá uns dez minutos de carro pequeno - esclarece Francisco, primeiro vizinho que nos acudiu, logo que soube que ladrões roubaram a nossa casa.
O ano era 1979. O mês, novembro. Foi uma dos dias mais difíceis da minha vida. Nunca imaginei que em uma casa tão pobre como a de minha família, recém-chegada a esse pacato município, poderia ser roubada em nossa ausência.
Não sei se mudou tanta coisa de lá para cá.
Mas naquele dia tive duas certezas:
- Tal qual aquela música do grande Bezerra da Silva, o ladrão passou raiva pelo tempo que perdeu nos roubando. Efetivamente, não havia nada de grande valor que ele pudesse levar;
- Que Diadema não era apenas Canhema, Santa Rita, Zé Carrero, Campanário, Taboão, Piraporinha, Vila São José, Parque Reid, Nações, Caixote em Pé, Vila Nogueira, Casa Grande e adjacências. Havia vida inteligente "do lado de lá da Imigrantes", além do Centro e do badalado balneário do Eldorado, um reduto náutico de celebridades e gente endinheirada às margens da Represa Billings na época, hoje abandonada pelo poder público ao longo dos anos;
Fiquei curioso: por que o nome do bairro era SERRARIA? Será que lá eles ainda pegavam as árvores no meio do mato e faziam ripas de madeira?
Acompanhe a partir daqui as aventuras por esse e outros bairros tão importantes da Grande São Paulo. Em Serraria tem um shopping, um hospital de referência, um restaurante popular, três hipermercados, dois atacarejos e muito mais coisas que nem o Centro de Diadema não tem mais.
